Paul Bloom: “A minha crítica é em relação à empatia como um guia moral. Como fonte de prazer, ela é imbatível”

Postado em fev. de 2016

Ciência | Psicologia e Saúde Mental | Social

Paul Bloom: “A minha crítica é em relação à empatia como um guia moral. Como fonte de prazer, ela é imbatível”

Empatia ou compaixão? Em entrevista, o professor e pesquisador de Yale diferencia ambas e mostra os problemas da empatia na tomada de decisão e como forma de manipulação contra grupos.


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Quando grande parte das pessoas proclamam que a empatia é a cura para todos os males, o psicólogo e pesquisador canadense Paul Bloom argumenta o contrário. Em seus experimentos e pesquisas conduzidos no Laboratório Mente e Desenvolvimento, Bloom observou que a empatia é um guia moral não confiável.

A empatia, que tema de seu novo livro, Against Empathy: the Case for Rational Compassion, precisa ser bem definida antes de ser discutida, esclarece o psicólogo. Para ele, empatia é “colocar-se no lugar de alguém, sentir o que o outro sente". Em entrevista, ele explica o que encontrou em suas pesquisas e esclarece os pontos que levantam polêmicas pelo mundo:

Você pode explicar como estuda a moralidade e a empatia quantitativamente? Como são estes experimentos?
Paul Bloom:
faço todos os tipos de experimento. Os experimentos que realizamos com bebês de 10 ou 12 meses, por exemplo, envolvem mostrar uma peça de teatro. Podem ser uma ou duas personagens, uma tentando subir uma colina e a outra ajudando ou empurrando a outra para que esta caia. Pode ser uma peça em que um fantoche está tentando abrir uma caixa e o outro fantoche colabora ou a fecha com força. Nós mostramos estas cenas aos bebês e testamos para ver qual das personagens eles preferem ficar olhando ou tentam pegar. Em alguns experimentos, damos a possibilidade deles recompensarem ou punirem as personagens. Estes experimentos com bebês permitem que exploremos o que bebês sabem sobre certo e errado.

Também trabalho com crianças em idade pré-escolar. Geralmente, lhes oferecemos situações diferentes e perguntamos: 'vocês acham que isso é certo?' ou 'vocês acham que isso é errado'? Konika Banerjee e eu estamos buscando descobrir se as pessoas naturalmente creem em destino. Damos histórias às crianças e aos adultos e perguntamos se 'isso aconteceu por algum motivo, havia alguma razão maior para isso acontecer?' Descobrimos que as crianças tem uma tendência maior para atribuir algo ao destino do que os adultos.

Com adultos, eu frequentemente faço experimentos perguntando sobre moralidade e observando fatores demográficos como orientação política e lugar de origem.

O que você descobriu em seus recentes estudos sobre empatia? Você observou alguma tendência?
Paul Bloom:
Meu livro se chamará Against Empathy (Contra a Empatia, em tradução livre), o que já lhe dá uma direção para onde meus argumentos apontarão. Sempre que falo sobre isso, preciso começar com a parte mais chata, definindo meus termos. Por 'empatia', algumas pessoas querem dizer tudo que é bom – compaixão, gentileza, acolhimento, amor, ser íntegro, transformar o mundo – e eu sou favorável a tudo isso. Eu não sou um monstro.

O que quero dizer com 'empatia' é se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sente. Esta é a forma que psicólogos tendem a usar o termo. Meu argumento é que a empatia lhe foca em um indivíduo e, como resultado, é limitada, é inumerável, é discriminatória e tendenciosa.

Uma maneira de explicar é que, por causa da empatia, nos preocupamos mais com uma menina presa em um poço do que com o aquecimento global. Por causa da empatia, histórias sobre o sofrimento de uma pessoa podem nos levar a guerras que poderiam matar milhões de pessoas. Por causa da empatia, nós nos importamos mais, devotamos mais recursos a alguém que é familiar, do nosso grupo ou país, do que a alguém estranho.

Então, eu argumento que devemos ser gentis, devemos ser compassivos, e devemos, definitivamente, ser razoáveis e racionais, mas que a empatia nos leva para outra direção.

Parece que você está dizendo que a empatia é uma fonte não confiável para a tomada de decisões. De que outras formas ela pode nos desencaminhar?
Paul Bloom:
Em alguns experimentos que realizei em parceria com um aluno, Nick Stagnaro, contamos às pessoas sobre alguma atrocidade – algo que hipoteticamente aconteceu no Oriente Médio, com pessoas sendo sequestradas, torturadas – e então perguntamos: como o governo norte-americano deve responder? Oferecemos diversas possibilidades de resposta, de fazer nada a algum tipo de embargo, invasões aéreas, todos os tipos de invasão por terra. Também oferecemos testes padrão de empatia, você pode fazer um na internet. As coisas se mostram como prevíamos: quanto mais empatia você tiver, mais você vai querer retaliar e machucar as pessoas como resposta.

Então, quando alguém quer inspirá-lo contra um grupo de pessoas, eles frequentemente usarão a empatia. Quando Obama quis bombardear a Síria, ele chamou atenção para as vítimas da guerra química. Em ambas as Guerras do Iraque, os políticos diziam: 'olhem para as coisas horríveis que estão acontecendo'. Eu não sou um pacifista. Eu acredito que o sofrimento de pessoas inocentes pode ser um catalisador para ação moral, mas a empatia coloca muito peso em favor do conflito. A empatia realmente pode levar à violência.

O exemplo que uso, é recente e me motivou a escrever um artigo porque me perturbou muito: estava ouvindo Donald Trump e ele falava sobre 'Kate'. Ele apenas a chamava de Kate. Então, fui pesquisar e ela era alguém assassinada por um imigrante sem documentos, como um assassinato que ocorre em uma cidade. E Trump falava dela o tempo todo. Trump a usou para inspirar o ódio em direção àquele grupo de pessoas. Ele os chamou de estupradores, de assassinos, e tornou isso concreto sob o nome de Kate.

A resposta a alguém como Trump deveria ser: mostre-me os números. Vamos colocar estatísticas na mesa. É uma resposta sem sentimentos, mas creio ser a mais moral. Na realidade, se você observar os números, muitas das falas de pessoas como Trump sequer são verdadeiras, mas, como elas exploram histórias sobre seus argumentos, e exploram nossos sentimentos de empatia, elas têm efeito sobre nós.

Já ouvi você definir a empatia como uma centelha moral. Ela pode ser boa? Já falamos sobre seus perigos, mas ela pode ser bem usada?
Paul Bloom
: Algo tão importante, central e abrangente como a empatia não pode ser apenas ruim. Creio que a empatia interpreta um papel em relações íntimas, onde você não quer que seu parceiro apenas se importe ou compreenda você, mas que sinta o mesmo. O filósofo Michael Slote tem um bom exemplo pra isso: o pai de uma menina que coleciona selos pode dizer 'eu respeito seu interesse por isso', mas, se ele puder compartilhar o entusiasmo da menina, não seria ótimo?

Ainda, considero a empatia importante para o prazer. Ela tem um papel nos esportes. Na vida sexual. Na vida ficcional, quando você lê histórias. E, claro, a empatia pode ser uma centelha moral, nos motivando a fazer coisas boas. Tudo pode ser uma centelha moral.

É preciso pesar prós e contras. Algumas pessoas acham que, sem empatia, não faríamos nada. Isso está totalmente equivocado. Você pode sentir compaixão e não sentir nada de empatia. Aqui, eu falo muito do Budismo, que foca na compaixão e na gentileza, gentileza amorosa, mas rejeita a empatia, porque é um mau guia moral. Creio que há evidência suficiente para provar que eles estão corretos.

- Leia a entrevista na íntegra no site da revista Guernica


Assista abaixo ao vídeo com Paul Bloom no Fronteiras do Pensamento, em que o psicólogo aborda o poder da empatia para comover e mobilizar pessoas. Clique aqui para assistir a todos os vídeos com Bloom.

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Paul Bloom

Paul Bloom

Psicólogo

Psicólogo canadense Ph.D em psicologia cognitiva pelo MIT e destacado professor de Psicologia e Ciência Cognitiva em Yale.
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