Paul Bloom: Como criar e manter funcionários felizes e engajados

Postado em dez. de 2019

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Paul Bloom: Como criar e manter funcionários felizes e engajados

Em fala exclusiva ao Fronteiras, psicólogo canadense aponta estudos sobre engajamento, motivação e produtividade.


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Em fala exclusiva ao Fronteiras do Pensamento, o psicólogo canadense Paul Bloom traz conceitos da psicologia da moral que podem ajudar as pessoas a serem mais felizes em suas vidas profissionais.

Partindo da ilusão do dinheiro como motivação humana, ele aponta exemplos que desmistificam o benefício material como o principal objetivo das pessoas ou como principal fator para o engajamento com as empresas para as quais trabalham.

Bloom vai além e demonstra como outras ações humanas, como as guerras, também funcionam sob a mesma lógica: o que nos move à construção (ou à destruição) nunca foi o dinheiro, mas sim valores mais profundos. Quais são estes valores? Confira na fala do psicólogo.

Psicólogo canadense, Ph.D em psicologia cognitiva pelo MIT, Paul Bloom é professor de Psicologia e Ciência Cognitiva em Yale. Com diversos trabalhos divulgados em publicações científicas como Nature e Science, suas pesquisas exploram como crianças e adultos percebem o mundo físico e social.

Membro da Sociedade Americana de Psicologia, em reconhecimento às suas contribuições para a ciência, já recebeu várias honrarias como o Stanton Prize, da Sociedade para Filosofia e Psicologia e o Lex Hixon Prize pela excelência no ensino.

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Paul Bloom: Como criar e manter funcionários felizes e engajados

Existem dois conceitos do estudo da psicologia moral que poderiam ajudar uma corporação ou um negócio a tornar as pessoas mais felizes e produtivas no ambiente de trabalho. E ambos podem parecer um pouco óbvios, mas creio que eles podem levar a achados surpreendentes.

O primeiro diz respeito à motivação e isso é um achado que, em estudo após estudo, apesar de normalmente dizermos que somos motivados por dinheiro e coisas materiais, na realidade, essa nunca é a motivação principal.

Na realidade, mais importante do que dinheiro é a percepção de equidade, a percepção de respeito.

Por exemplo, alguém ganhando X dólares não ficará muito feliz se souber que todos ao seu redor ganham mais. Especialmente, se não for merecido. As pessoas gostam de ser pagas pelo quanto merecem. Elas gostam de sentir que são respeitadas e cuidadas.

No fim, não é sobre o dinheiro, mas sim sobre valores mais profundos. Isso, geralmente, é mais verdadeiro.

Existem muitas análises sobre guerras que afirmam que as nações não entram em guerra por recursos, dinheiro ou coisas do gênero.

Mas, frequentemente, por sentirem que valores sagrados estão ameaçados. Elas entram em guerra por razões morais mais profundas.

Em uma escala mais mundana, às vezes até um gesto simbólico de respeito e cuidado pode sobrepor o dinheiro.

Muitos anos atrás, minha esposa e eu estávamos sendo recrutados pela Universidade de Yale, de outra universidade. Estávamos negociando coisas como onde viveríamos, quanto seriam os nossos salários, como nosso laboratório seria.

Naquela época, minha esposa deu à luz ao nosso segundo filho. E as pessoas do Departamento de Psicologia de Yale nos mandaram flores belíssimas.

Um lindo buquê de flores custa quase nada, visto que estávamos discutindo espaços laboratoriais, que custavam uma enorme quantia de dinheiro.

Mas o simbolismo, o sentimento de ganhar aquilo, o sinal de afeto e cuidado tiveram um papel poderoso em nossa decisão.

Portanto, o primeiro conceito de psicologia da moral é: nós comumente superestimamos o quanto o dinheiro importa. Pensamos que, se você pagar mais às pessoas, elas serão mais felizes, se você pagar menos, elas serão miseráveis. Pensamos, enfim, que as pessoas fazem as coisas por dinheiro. Creio que isso não é apenas cinismo, é também má psicologia.

O segundo conceito da psicologia da moral tem a ver com domínios. Domínios de interação humana.

Psicólogos e sociólogos argumentam que as pessoas se encontram em diversos relacionamentos, diversos tipos de relacionamentos, que possuem regras diferentes.

Em um extremo, há o relacionamento de troca. Imagine que você vai a um mercado comprar chiclete ou bala. Ora, esse é um relacionamento de troca: você entrega o dinheiro e recebe a bala. Imagine que você vai a um restaurante ou um bar, você dá o dinheiro e, em retorno, ganha comida ou bebida. Muitos de nossos relacionamentos funcionam assim.

Mas, um tipo diferente de relacionamento é o que chamamos de relacionamento mais pessoal. Por exemplo, eu recebo amigos para jantar e faço-lhes uma janta deliciosa. Eles se levantam e dizem: “Muito obrigado, estava delicioso, concluímos que, dado o quanto você trabalhou nisso e o custo dos ingredientes, aqui está o dinheiro que vamos lhe dar”.

Eu ficaria extremamente insultado, isso viola a noção de amizade. Pense em termos de sexo. Se duas pessoas fazem sexo e, depois, uma pessoa levanta e entrega à outra uma quantia em dinheiro. Isso é uma relação muito diferente do tipo normal, romântico, amoroso.

Então, tratamos o mundo dessas maneiras diferentes e, normalmente, as mantemos em separado.

Uma razão pela qual as pessoas ficam tão chocadas com a prostituição é porque tipicamente acreditam que o sexo deveria estar no campo da amizade, no campo social, que está sendo codificado como um campo de trocas.

Então, a questão é: onde o local de trabalho se encaixa nessas categorias? A resposta é complicada, pois depende do lugar de trabalho.

É sempre um pouco um relacionamento de troca, porque as pessoas vão trabalhar e recebem algum tipo de recompensa financeira, ou de outro tipo. Mas, penso que os melhores lugares de trabalho são do tipo que propicia menos uma relação de troca e mais uma relação social, pessoal.

Penso nas universidades em que trabalhei e as melhores são aquelas nas quais as pessoas não dizem o que fazer, elas pedem favores. Há uma sensação de pertencer a um projeto mais amplo, e não de comparecer apenas pelo pagamento. Há estudos da psicologia que comprovam isso.

Suponha que você é um político, e você poderia ter pessoas trabalhando em sua campanha através de um programa de voluntários, onde elas trabalhariam voluntariamente, ou você poderia pagá-las.

Você poderia pensar que voluntários são mais baratos, mas que pagando você terá trabalhadores melhores e mais confiáveis. Só que ocorre o oposto.

Quando você paga alguém por algo, quando eles pensam que estão fazendo isso por dinheiro, eles são menos envolvidos, menos engajados e, quando o dinheiro acabar, eles se vão.  

Mas, se eles são voluntários, sentem-se parte da coisa. Então, as coisas mudam. Eles gostam mais do projeto, trabalham mais duro, são mais comprometidos e ficam.

Agora, nenhum lugar de trabalho é composto inteiramente de voluntários. Novamente, até certo ponto, é uma relação de troca.

Contudo, creio que as lições da psicologia da moral sugerem isso: como no primeiro conceito, não era sobre o dinheiro em si, mas sim sobre a percepção de equidade, justiça e respeito.

Também, não é uma troca em si, mas uma rede mais complexa e rica de laços sociais que colaboram para se ter pessoas comprometidas e satisfeitas no trabalho.

Portanto, creio que esses são dois dos conceitos que deveríamos usar da ciência moderna da psicologia da moral e que acredito que teriam alguma relevância no mundo dos negócios.

Assista à fala de Bloom no vídeo abaixo:

 

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Paul Bloom

Paul Bloom

Psicólogo

Psicólogo canadense Ph.D em psicologia cognitiva pelo MIT e destacado professor de Psicologia e Ciência Cognitiva em Yale.
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