Fronteiras 10 anos: Edgar Morin

Postado em set. de 2016

Filosofia | Sociedade

Fronteiras 10 anos: Edgar Morin

Morin é parte da história do Fronteiras. O francês esteve no projeto em 2008 e em 2011 para proferir diferentes conferências, que esboçavam os desafios e transformações de cada ano.


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Sociólogo, antropólogo e filósofo francês, Edgar Morin faz parte da história do Fronteiras do Pensamento. Um dos últimos grandes intelectuais da época de ouro do pensamento francês do século XX, Morin esteve no projeto em 2008 e em 2011 para proferir diferentes conferências, que esboçaram os principais desafios e transformações de cada ano.

Em 2011, na fala O caminho - para o futuro da humanidade, Morin defendeu que as respostas aos problemas atuais estão na superação do que ele considera o maior desafio atual: globalizar e desglobalizar ao mesmo tempo. Para estimular a possibilidade de coexistência destas facetas aparentemente opostas, Edgar Morin passou por inúmeros campos da vida contemporânea, analisando problemas e oportunidades e concluindo que, diante de tantas incertezas, devem surgir novas estratégias que reconheçam os erros do caminho e que tentem abordagens inovadoras em direção a um mundo não perfeito, mas melhor.

Já em 2008, Morin apresentou as grandes lições do passado na conferência 1968-2008: o mundo que eu vi e vivi, traçando análises comparativas entre os períodos. Morin questionou o "mito do progresso" como um fim em si mesmo. No excerto de sua fala que trazemos mais abaixo, o filósofo apresenta as consequências deste "mito", ou do fim dele, ao sujeito e à ideia de identidade.

Leia o excerto de sua fala ao Fronteiras 2008:

Existe um pouco, por todos os lugares, essa reivindicação de identidade que, certa ou errada, teme se afogar. Mas, existe um segundo elemento que explica tudo isso: é a perda do futuro. Por quê? Porque o mundo viveu com a ideia de que o progresso era uma lei histórica, ou seja, que amanhã seria melhor do que hoje. E, talvez, houvesse algumas perturbações, mas essa lei era certa.

Porém, a partir justamente dos anos de 1970, 1980, 1990 parece cada vez mais que o progresso não é certo de jeito nenhum, que os próprios motores do progresso são ambivalentes. Ou seja, que a ciência, que normalmente deve levar o progresso humano e que traz um grande progresso nos conhecimentos, traz também as armas de destruição massiva, que a técnica, ela mesma, produz essas armas de destruição massiva e não produz somente o "assujeitamento" das energias físicas, mas produz também o "assujeitamento" daqueles que trabalham nessas máquinas.

É que a economia, que tem aspectos de desenvolvimento e que traz bens é, ela própria, uma economia que não é controlada, que não é regulada. Ela própria passa por crises. E depois existe também, percebe-se que as guerras de religião que pareciam pertencer ao passado voltam na atualidade. Todos esses fatores parecem indicar que o progresso está minado – já que se acreditava que era a ciência, a razão, a técnica, a economia que iriam guiar a humanidade em direção ao progresso, mas percebe-se a profunda ambivalência desse guia.

A crise do futuro, a crise do progresso. A perda do futuro é muito grave porque, quando se perde a esperança no futuro surge uma sensação de angústia e de neurose. Dessa forma, a crise do futuro, lá onde há um mínimo de presente que pode ser vivido, provoca a retração do presente – é a vida no presente imediato. Toda uma parte do mundo ocidental vive o presente imediato. Mas, quando se faz política no presente imediato, quando não se pensa mais no futuro, não há mais perspectiva. Ou, quando o presente é ruim e infeliz, o que resta?

Então, essa crise de civilização, e não se vê solução, não se vê saída, não se vê remédio, ao contrário, ela continua crescendo, e, finalmente, essa crise é também a crise do planeta, porque o planeta, em todas as megalópoles, se ocidentalizou, seja em Xangai, em São Paulo ou outro lugar, é a crise da humanidade que não chega a nascer, crise da humanidade com a crise do progresso, incerteza do futuro, retorno das religiões.

Assim, eis como se pode situar a tragédia dessa época; e o futuro é desconhecido a partir de agora. Percebe-se, retrospectivamente, que a aventura da humanidade é uma aventura desconhecida.


*Excerto da conferência de Edgar Morin no Fronteiras do Pensamento 2008, 1968-2008: o mundo que eu vi e vivi. Assista ao vídeo extraído desta conferência em nosso canal do YouTube

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Edgar Morin

Edgar Morin

Filósofo

Sociólogo, antropólogo, historiador e filósofo francês, é doutor honoris causa em 17 universidades e um dos últimos grandes intelectuais da época de ouro do pensamento francês do século XX.
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