Por dentro das discussões na COP-26: a crise climática em documentários

Postado em nov. de 2021

Literatura | Sustentabilidade | Governança

Por dentro das discussões na COP-26: a crise climática em documentários

O meio ambiente é um tema incontornável das relações políticas e comerciais. Listamos e analisamos filmes com produção mais recente, entre eles títulos que tratam especificamente do Brasil.


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Consagrado com o Oscar de melhor documentário de longa-metragem em 2007, “Uma Verdade Inconveniente” obteve uma repercussão pouco comum para esse tipo de produção, que costuma ter sua maior vitrine na televisão.

Com direção de Davis Guggenheim e apresentação do ex-vice presidente dos Estados Unidos Al Gore, o filme mostrava em tons apocalípticos um planeta Terra rumo ao colapso provocado pelos efeitos do aquecimento da atmosfera e dos oceanos, da poluição e de práticas pouco sustentáveis de governos, empresas e indivíduos.

Agora em 2021, sob essa luz vermelha cada vez mais intensa, governantes e cientistas do mundo todo debatem na Conferência Sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Glasgow, na Escócia (a COP-26), ações que exigem cada vez mais urgência e comprometimento para mitigar danos que muitos especialistas apontam como irreversíveis.

O meio ambiente é um tema incontornável das relações políticas e comerciais. Convidado do Fronteiras do Pensamento – Era da Reconexão, o economista indiano Pavan Sukhdev vai falar sobre isso em sua conferência, no dia 8 de dezembro.

 

“Uma Verdade Inconveniente” pode ser assistido em serviços de streaming como Apple TV e Google Play. As plataformas digitais abrigam dezenas de bons documentários com diferentes abordagens sobre o tema. Listamos abaixo filmes com produção mais recente, entre eles títulos que tratam especificamente do Brasil.

Explicando

A série produzida pela Netflix em parceria com a plataforma de mídia Vox sintetiza em episódios com pouco mais de 20 minutos de duração temas dos mais variados. Um time de renomados especialistas e criativos recursos visuais garantem que o tempo enxuto não comprometa a profundidade da explanação. Nas três temporadas disponíveis, pelo menos dois títulos relacionados à sustentabilidade e ao meio ambiente se destacam.

“Petróleo” parte da experiência pioneira, em 1856, que revelou o impacto do dióxido de carbono no aquecimento da atmosfera e discute a dependência universal gerada pela queima de combustíveis fósseis. Aborda também a exploração colonial das grandes potências que colocaram países periféricos produtores de petróleo sob instabilidades políticas, pobreza e degradação ambiental. Prospecta ainda como um futuro distante o mundo integralmente movido por uma matriz energética limpa.

Já “A Crise Global da Água” sublinha que morrer de sede não é um pesadelo distópico. A água é um elemento vital para a vida, mas 97% dela é salgada, o que exige tecnologia e investimentos ainda economicamente inviáveis para oferta em larga escala. Outros 2% estão presos em geleiras e picos nevados e é de apenas 1% a disponibilidade para consumo. Rios e lagos que secam diante do aquecimento global e de intervenções do homem, alterações climáticas que alteram ou interrompem ciclos de chuva, poluição, índices elevados de desperdício de água tratada e consumo irresponsável da grande indústria são alguns fatores apontados para o alerta. É um drama que escancara a desigualdade social e provoca conflitos e intensos ciclos migratórios. Segundo os especialistas consultados, a água, ainda vista como um produto sem custo e infinito, se tornará cada vez mais rara e cara, uma commodity tão valiosa como o petróleo nos dias de hoje.

Saving the Amazon

Vitrine do Brasil no debate mundial sobre o meio ambiente, a Amazônia marca presença em muitas produções. Este documentário disponível na Amazon Prime Video traz o olhar entrageiro sobre o tema. Trata-se de uma grande reportagem conduzida pela jornalista Sophie McNeil para a rede de TV australiana ABC. O foco é o crescente desmatamento da floresta tropical brasileira, em especial no governo de Jair Bolsonaro, apresentado como um “cético das mudanças climáticas” e defensor de um projeto de desenvolvimento que avança sobre leis de proteção ambiental.

Sophie conversa com ambientalistas, cientistas, representantes das comunidades indígenas e autoridades, entre outros segmentos envolvidos, para denunciar como o avanço de atividades como extração ilegal de madeira combina omissão do poder público, corrupção, grilagem e violência.

Sertão Velho Cerrado

Não é apenas a Amazônia razão de grande preocupação ambiental envolvendo o Brasil. Esta produção em cartaz na Netflix destaca a importância de um dos maiores e mais antigos biomas da Terra, localizado na região central do país. O Cerrado abarca diferentes Estados e tem como um dos pontos de maior atenção a Chapada dos Veadeiros, em Goiás. A riqueza da fauna e da flora locais vem sendo seriamente comprometida nas últimas décadas, além da crise climática global, pela ação direta do homem. Queimadas e desmatamento decorrentes de grandes plantações e poluição e degradação de solo resultantes da extração de minérios estão entre os problemas apontados por ambientalistas e moradores, que se empenham para preservar o Cerrado de uma deterioração irreversível.

Em Busca dos Corais

Vencedora do Emmy de melhor documentário em 2018 – a mais importante premiação da televisão americana –, esta produção apresenta o trabalho inovador e obstinado de Richard Vevers, fotógrafo e mergulhador que deixou uma bem-sucedida carreira como publicitário em Londres para criar uma espécie de Google Street View do fundo do mar. Vevers tem interesse específico na degradação dos recifes de corais em todos os mares do mundo, por conta, sobretudo, do aquecimento dos oceanos.

Rede viva interligada por milhões de diferentes espécies, as barreiras de corais são elementos vitais para o ecossistema marinho e para a sobrevivência das populações das regiões costeiras. Para mapear o tamanho do estrago, percorrendo do Pacífico Sul ao Caribe, de pontos conhecidos às áreas mais remotas, a equipe de Vevers desenvolveu equipamentos especiais, como uma câmera que captou imagens em 360º nunca vistas do fundo do mar. O acervo fotográfico está disponibilizado em um projeto educativo em realidade virtual. O documentário está no catálogo da Netflix.

Seremos História?

Em paralelo a sua estrelada carreira como ator, Leonardo DiCaprio é um empenhado militante da causa ambiental e costuma apoiar como produtor executivo muitos documentários para o cinema e para a televisão. Neste, em cartaz na plataforma Disney+, DiCaprio tem como parceiro o também oscarizado documentarista Fisher Stevens. Eles percorrem o mundo para mostrar em diferentes frentes os efeitos das mudanças climáticas que desenham um quadro desolador, tamanho é o grau de degradação da natureza provocado pelo homem. Poluição e aquecimento da atmosfera decorrentes da queima de combustíveis fósseis, seca, derretimento de geleiras, elevação do nível do mar, incêndios florestais, desmatamento, enchentes, extinção da fauna e da flora são algumas questões debatidas com cientistas, líderes políticos e grandes empresários.

David Attenborough e o Nosso Planeta

Hoje com 95 anos, Sir David Attenborough segue incansável à frente dos documentários sobre a vida natural que apresenta há mais de cinco décadas – e que o levaram a percorrer os pontos mais longínquos do planeta. Logicamente, a questão ambiental foi incorporada à sua pauta. Entre os muitos filmes e séries de Attenborough disponíveis, este documentário resume sua trajetória.


Percorrendo as ruínas da cidade ucraniana arrasada pelo acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, Attenborough faz uma analogia entre uma destruição pontual provocada pelo homem e o colapso em larga escala que este impõe ao planeta de forma progressiva. Visitando lugares onde esteve décadas atrás, como florestas tropicais de Bornéu ou geleiras no Ártico, ele ilustra o colapso de ecossistemas, seja pelo desmatamento ou por efeito do aquecimento global.

Embora o testemunho de Attenborough sobre como viemos parar nessa situação tenha o tom melancólico, o veterano explorador manifesta otimismo diante de iniciativas sustentáveis que, se forem aceleradas, podem postergar o desastre iminente. E usa como exemplo o próprio cenário de Chernobyl, onde o verde retoma seu lugar entre as ruínas de concreto. Sua lição é de que a natureza, deixada por si só, até consegue se recompor, mas precisa de um tempo que o homem não tem, pois pode não estar mais aqui para observar. Em cartaz na Netflix.

A Lei da Água - Novo Código Florestal

Com produção do cineasta Fernando Meirelles, reconhecido militante da causa ambiental, este documentário da Amazon Prime Video tem foco no Brasil e soma na discussão sobre o tema aspectos legais e políticos que marcaram a aprovação pelo Congresso do Novo Código Florestal, em 2012. Por envolver questões como preservação de mata nativa em áreas privadas, este processo gerou um debate caloroso entre ambientalistas, cientistas e proprietários de terras representados no parlamento pela forte bancada ruralista.

Discussões que se estendem até hoje e envolvem questões internas, como os modelos de produção do agronegócio e a histórica problemática da demarcação de terras, e externas, em especial o papel protagonista do Brasil no debate global sobre meio ambiente.

O documentário aborda ainda o processo de urbanização de grandes cidades brasileiras, que não considerou impactos ambientais, e a acelerada busca pelo desenvolvimento industrial e agrário sem atenção aos modelos de economia sustentável. Práticas essas que resultaram em problemas, entre outros, como crise hídrica e desmatamento.

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