Postado em jun. de 2024
Mulheres Inspiradoras
O poder da ficção contra os demônios do século XXI
Em sua conferência no Fronteiras do Pensamento, a autora francesa discutiu como a ficção pode enfrentar os males contemporâneos.
“O romance literário hoje é o pior inimigo do diabo” afirmou Muriel Barbery em sua conferência. A autora usou a figura do Diabo como metáfora para ilustrar os males modernos, como a crise climática, a guerra, e o retorno do autoritarismo. Segundo ela, o Diabo representa a mentira, a erosão do diálogo e a perda da compreensão mútua.
“Em um mundo bombardeado por imagens violentas, polêmicas e desinformação, o “Diabo” é quem limita a capacidade de entender o que vivemos”.
A escritora francesa Muriel Barbery foi a segunda conferencista da temporada 2024 do ciclo Fronteiras do Pensamento com uma palestra incisiva sobre os desafios contemporâneos e a importância da literatura de ficção. Autora de obras aclamadas como A elegância do ouriço e Uma hora de fervor, Barbery apresentou suas ideias, discutindo como a ficção pode servir como antídoto contra a polarização e a desinformação.
O tema não poderia ser mais relevante: a falta de diálogo e a prevalência de um pensamento binário e imediatista estão agravando cada vez mais os conflitos armados e as crises ecológicas e sociais.
Uma pesquisa da Academia Nacional de Ciências dos EUA de 2014 demonstra um viés cognitivo fundamental que impulsiona a intransigência dos conflitos: a assimetria de atribuição de motivos. Este viés parte da suposição de que sua ideologia é baseada no amor, enquanto a de seu oponente é baseada no ódio. Nos Estados Unidos, por exemplo, os pesquisadores descobriram que os republicanos e democratas médios de hoje sofrem de um nível de assimetria de atribuição de motivos comparável ao de palestinos e israelenses.
“Vivemos em uma sociedade hiperconectada, mas incapaz de verdadeira compreensão e alteridade”
A importância da literatura para o resgate da capacidade crítica e empática do ser humano não pode ser subestimada: “A ficção literária desafia narrativas simplistas e promove a complexidade do pensamento”. Segundo Barbery, a literatura permite que os leitores se coloquem no lugar dos outros, uma ação crucial em tempos de polarização.
Barbery afirma que a ficção nos permite ver o mundo pelos olhos dos outros. Os leitores desenvolvem uma visão de mundo alterada, compreendendo visões distintas e acreditando na complexidade da sociedade. Estudos mostram que quem lê ficção tende a ter mais empatia e sensibilidade aos sentimentos dos outros.
A escritora ressaltou que a literatura deve ser apreciada por sua capacidade de abordar questões humanas universais, e não apenas por seus aspectos políticos e sociais. Apesar de reconhecer que a literatura sozinha não resolverá todos os problemas, Barbery acredita que um mundo sem leitura de ficção é um mundo perdido.
“Jamais um romance irá prevenir uma guerra, mas a leitura de ficção é vital para manter a humanidade em nosso pensamento”, concluiu.
A palestra de Muriel Barbery já está disponível na plataforma Fronteiras+, que oferece acesso a todas as conferências da temporada 2024, e muito mais: torne-se membro hoje.
Entre os próximos palestrantes estão Yascha Mounk, Nouriel Roubini, Anna Lembke e Simon Montefiore, prometendo reflexões profundas sobre as grandes questões contemporâneas.
Muriel Barbery
Renomada romancista francesa best-seller no mundo todo