Sempre há sinais

Por Luiz Fernando Bettella

O Fronteiras do Pensamento trouxe a Porto Alegre Nadia Murad, Nobel da Paz de 2018, e eu não desperdicei a oportunidade de ouvir a ativista iraquiana, uma das vozes mais corajosas e atuantes da atualidade na luta contra o tráfico de pessoas e a violência sexual.  Eventos como esse não aparecem todo dia.

A casa estava cheia mais uma vez. Eu e minha esposa chegamos um pouco mais cedo para curtir o ambiente que precede a conferência, e reparamos que muitos fizeram o mesmo. Atmosfera boa é um convite ao convívio.

Nadia é uma mulher pequena, franzina, cuja aparência esconde sua força descomunal. Quando o Estado Islâmico invadiu sua aldeia, matou sua mãe, seis de seus irmãos e a levou como escrava sexual, não havia ninguém para defendê-los, nem mesmo para avisá-los. O povo iazidi foi abandonado pelo governo. Havia sinais de que aconteceria, diz ela, sempre há sinais, a grande maioria dos genocídios pode ser evitada se prestarmos atenção e agirmos aos primeiros sinais.

Nadia é mulher de fala suave, sem excessos; nem alegria, nem melancolia. Demonstra a calma própria dos que têm a consciência de terem vivido a pior parte de suas vidas. Nadia é mulher de iniciativa, Nobel da Paz não se ganha apenas com discursos. Ouvi-la foi um privilégio. 

A temporada 2023 do Fronteiras muito me agrada. Primeiro Rosa Montero, depois Nadia Murad, duas mulheres com talentos tão diferentes nos lembram que há infinitas maneiras de influenciar o mundo de forma positiva. Como bem disse Nadia, comece com os mais próximos, na escola, no trabalho, com os amigos e com a família. Sempre compartilhei dessa ideia. Cada pequena boa ação, cada gentileza conta. 

Primeiro Rosa, depois Nadia, que venha Rafael. A arte, a história, as atitudes altruístas e o conhecimento nos inspiram a sermos melhores. Cada um a seu modo.

Texto Luiz Fernando Bettella